Daniel Dino
Assessoria/Sintuf-MT
Uma verdadeira aula de história, repleta de reflexões atuais, pode resumir a palestra da representante da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Marly Keller, durante o seminário Mesa Redonda ‘O papel da mulher na sociedade, na política e no trabalho’. O evento foi realizado pelo Sindicato dos Trabalhadores Técnico-administrativos em Educação da UFMT (Sintuf-MT).
Marly contou um pouco da história da criação do Dia Internacional da Mulher, reforçando a luta das mulheres socialistas na Rússia contra as péssimas condições de trabalho, e mesmo o incêndio criminoso nos EUA que resultou na morte de uma centena de mulheres trabalhadoras. No Brasil, ela reforçou que apenas em 1924 as mulheres começaram a ter direito ao voto, porém era necessário ser casada e possuir muitas posses. “O voto universal, para todas as mulheres, somente foi conquistado com a Constituição de 1988”, destacou.
Com relação à ocupação de espaços na política, a mulher conseguiu se eleger como prefeita pela primeira vez em 1928, no município de Lages, Rio Grande do Norte.
A evolução cientifica também foi citada como um fator primordial para que mulher passasse a se destacar na sociedade. Com a popularização do anticoncepcional, a mulher conseguiu definitivamente desvincular a exclusividade do sexo para procriação, permitindo que ela passasse a fazer um planejamento familiar muito mais eficiente. “Temos acompanhado o fim do pensamento de que a mulher tem que ser escondida, tem que ficar em casa cuidando dos filhos. A mulher tem que aparecer”, pontuou a representante da CUT.
ABORTO
Tema ainda polêmico na sociedade, Marly reforçou a necessidade deste debate ser feito. “Eu sei que a questão é polêmica, mas o debate tem que acontecer, o aborto existe e isso não vai mudar, não adianta fechar os olhos”. Segundo ela, o debate tem que acontecer sobre as condições que o aborto é realizado no Brasil. “O aborto acontece em que condições? Geralmente com médicos de formação duvidosa para as meninas pobres, que morrem e sofrem complicações. As meninas ricas também fazem o aborto, porém em clínicas caríssimas. Até quando esta situação vai ficar escondida?”, indagou a palestrante.
TRABALHO
As conquistas trabalhistas da mulher foram citadas durante o seminário. No Brasil, as mulheres recebem salários 30% menores que os dos homens, em média. Porém, Marly Keller destacou que este cenário apresenta sinal de mudanças, e devido a luta organizada das mulheres. Ela citou que a Constituição de 1988 garantiu os primeiros direitos trabalhistas para as empregadas domésticas, mas somente recentemente elas foram todas igualadas aos demais trabalhadores. “Vocês viram o tamanho do debate na sociedade que esta equiparação causou, o debate, o tabu quebrado foi gigantesco”.
Segundo ela, é preciso ficar atenta para não reproduzir o discurso que diferencia a mulher. “Esta diferenciação começa na infância, desde a hora da compra dos presentes. Meninos ganham brinquedos que estimulam a inteligência, que os liberam para a rua, meninas ganham bonecas com estereótipo de beleza ou brinquedos que a remetem para vida doméstica”.
BANDEIRAS
As bandeiras da CUT na luta da mulher foram pontuadas no seminário: Igualdade, Liberdade e Autonomia.
Igualdade: Igualdade de oportunidades, com salários iguais, em uma sociedade que representa a maioria que as mulheres já exercem no ensino superior, que não restrinja o papel da mulher.
Liberdade: liberdade de usar a roupa que quiser, na hora que quiser. Liberdade na escolha sexual, liberdade de romper o discurso que a mulher pertence ao espaço privado.
Autonomia: 48% dos títulos da reforma agrária atualmente estão na mão de mulheres, antes de 2003 este número era de apenas 13%. A mulher tem que possuir a sua autonomia.
O seminário Mesa Redonda ‘O papel da mulher na sociedade, na política e no trabalho’ foi realizado na sede do Sintuf-MT, no dia 14 de março.